Um alimento pode ser versátil, barato, fácil de preparar e ao mesmo tempo agradar a mães e filhos. Em um simples ovo são encontrados nutrientes importantes que se apresentam em quantidades e biodisponibilidade muito interessantes para a nutrição tanto da mãe quanto das crianças. Nutrientes estes que são imprescindíveis para garantir a saúde e equilíbrio de um organismo que irá gerar outra vida, ou de um pequeno ser que está em fase de crescimento e desenvolvimento. O ovo pode contribuir com boas doses de colina, ácido fólico, ferro, zinco, entre outros, além de fornecer proteínas de alta qualidade, presentes tanto na clara quanto na gema, com poucas calorias e gorduras do bem - aquelas que tem efeitos positivos e protegem o coração.
O estado nutricional da mulher grávida desempenha um importante papel no desenvolvimento do feto, muito influenciado pela alimentação, especialmente nas primeiras semanas de gravidez e no período de três a seis meses que antecedem a concepção. Se a gestante apresentar menores reservas nutricionais, há um risco maior do feto e do recém-nascido apresentarem déficit do desenvolvimento neurocognitivo, malformações congênitas, prematuridade, ganho de peso e/ou comprimento insuficientes, levando ao nascimento de crianças pequenas para a idade gestacional (PIG).
Um dos nutrientes mais importantes fornecidos pelo ovo tanto para gestantes quanto para o feto e crianças recém-nascidas ou em fase de crescimento é a colina. Duas gemas fornecem cerca de 250 mg de colina, metade das necessidades diárias de uma mulher gestante ou amamentando, e quase toda a quantidade que uma criança necessita por dia.
A colina, juntamente com o ácido fólico – que também é encontrado entre as vitaminas do complexo B presentes na gema do ovo –, são imprescindíveis nos primeiros dias e meses de gestação para a perfeita formação do tubo neural do feto e do centro cerebral da memória (hipocampo), que influenciará a estrutura e função cerebral em idades mais avançadas. O consumo de colina é importante pois as necessidades da gestante nesse momento estão aumentadas, devido à transferência de colina via placenta, da concentração do nutriente no líquido amniótico e da utilização pelo embrião para formação de estruturas neurais e cognitivas. A síntese endógena também é intensificada neste período, porém estudos mostram que o consumo de colina pelas populações femininas ainda encontra-se bem abaixo do recomendado por especialistas.
Na forma livre ou de seus derivados, em especial a fosfatidilcolina, este nutriente destaca-se por suas múltiplas e complexas funções metabólicas, principalmente as relacionadas à composição e sinalização das membranas celulares e neurotransmissão. Por isso, os primeiros anos de vida caracterizam-se por um período em que as necessidades de colina estão aumentadas devido ao rápido desenvolvimento e intensa biossíntese das membranas cerebrais. O ovo, além de se caracterizar como um alimento cujo paladar agrada crianças de diversas idades, ainda oferece nutrientes imprescindíveis para o bom desenvolvimento cognitivo dos pequenos.
Tabela 1: Principais fontes dietéticas de colina em porções usuais de alimentos
Alimento |
Medida Usual (g/mL) |
Colina (mg) |
Fígado de boi cru |
1 porção média -100g |
333,3 |
Fígado de galinha cru |
1 porção média -100g |
194,0 |
Ovo de galinha inteiro cru |
1 unidade grande (50g) |
125,5 |
Ovo de galinha inteiro cozido |
1 unidade grande (50g) |
112,7 |
Quinoa crua |
½ xícara (85g) |
59,6 |
Soja cozida |
½ xícara (86g) |
40,8 |
Leite materno |
1 caneca (245mL) |
39,4 |
Leite de vaca desnatado |
1 caneca (245mL) |
38,2 |
Leite de vaca integral |
1 caneca (245mLl) |
34,9 |
Fonte: Perucha, VFR, Aquino, RC. Boletim do ovo. Inst. Ovos Brasil, 2012. Base USDA, 2011
De grande importância também para prevenir o raquitismo, responsáveis pelo bom desenvolvimento ósseo e, consequentemente, pelo crescimento das crianças, a vitamina D e o fósforo também tem no ovo uma boa fonte alimentar. A principal forma de obtenção da vitamina D é sua síntese pelo próprio organismo a partir da exposição solar diária, porém a alimentação também pode auxiliar na suplementação deste nutriente. Paradoxalmente, em um país banhado de sol de norte a sul o ano todo como o Brasil, há uma grande deficiência de vitamina D na população do País, apontada pelos estudos BRAZOS e também Peters (veja referências ao final). Nas fontes alimentares, por ser lipossolúvel, a presença da vitamina D em meio gorduroso é imprescindível para sua absorção, o que faz da gema do ovo uma fonte de ótima biodisponibilidade. Um ovo contém cerca de 40 ui de vitamina D e 96 mg de fósforo.
Tanto mães quanto filhos também podem se beneficiar da proteína de alto valor biológico encontrada na albumina das claras de ovo. De fácil digestão e absorção pelo organismo, desempenha papel importante no processo de recuperação dos tecidos após o parto, e mesmo ao longo da gravidez, e por se tratar de alimento construtivo, fornece matéria-prima para a multiplicação de tecidos no feto e também nas crianças desde a mais tenra idade. Importante apenas observar que o consumo de claras é indicado somente após seis meses de idade, para evitar qualquer reação alérgica do bebê.
Levando-se em consideração também que a desnutrição protéico-calórica e as deficiências de ferro, vitamina A e folato se constituem como os principais problemas nutricionais na gestação, demonstra-se mais uma vez a importância da presença do ovo na alimentação de gestantes, como fornecedor de ferro e zinco, prevenindo-se a anemia.
Hoje, já se sabe que o colesterol do ovo não interfere nas taxas de colesterol sangüíneo – os grandes vilãos neste sentido são as gorduras saturadas e trans, dietas pobres em fibras, sedentarismo, obesidade e tabagismo.
Além do ovo, outros alimentos ricos em ferro (carne vermelha e folhas verde-escuras), ricos em carotenos e retinol – vitamina A (rins, peixe, fígado e batata-doce) e ricos em vitamina C e gordura (frutas, óleo, coco e amendoim) para permitir melhor absorção de ferro e vitamina A, também são indicados para compor a alimentação da gestante.
Data: Maio/2012